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EX-CAPAS II E O LIVRO-ARTE 

Nesta mostra intitulada Ex-Capas II, Éric Collette nos faz sentir que a experiência humana do fazer e do pensar pode tornar-se sentimento das coisas no nascedouro. Trata-se da experiência captada como sentimento do mundo a partir dos processos de interpretação da realidade. E nesses processos há convergências. Quiem já escreveu um livro saberá que, nesses trabalhos, Éric imagina o andamento da escrita e da leitura tangenciadas como experiências produtivas que trazem ao mundo novos seres. Esses novos seres se revelam partes de um universo que antecede e ultrapassa capas e páginas dos livros que conhecemos. Para dar vida a esses seres o artista escolha a matéria. Vai ao interior dos livros para trazê-los ao campo da tridimensionalidade desejosa de uma quarta dimensão. Através de cortes, recortes, inserções, e de outros recursos transformacionais, Éric elabora possibilidades de uma «escrita» e de uma «leitura» sempre renovadas.

 

Nos livros concebidos pelo artista subsiste um livro imaginado ex-capas. E, dando originem a uma «biblioteca» de volumes em constante transformação, subjaz o livro-arte que se mostra arquétipo das imagens que nascem antes e depois das palavras. Esse livro encarna o anterior e o posterior, bem como o avesso das capas traduzindo a experiencia estética das coisas que ainda não são livro, e contando estorias de um primeiro livro em que cada um de nos se torna personagem. Movimento. Procura. Sondagem. Achados. E perdidos. Desenho. E intervenção na ordem das coisas em estado de mudança. E nessa intervenção o livro-arte revela a sua diferença. Texto tridimensional. Dentição inesperada. Boca em busca de fala. Hastes equilibristas. E outras estranhezas. No livro-arte de Éric Collette o intimismo salta escritos a fora para viver mutações realizadas ex-capas. E para ultrapassar a linearidade da repetição. O livro-arte de Éric Collette desencadeia uma escrita e uma leitura das coisas em estado latente. Mas essa latência se revela e se inicia nas entranhas do papel visitado como materia-prima de um drama a ser encenado pelo manuseio que o concebe tátil. Tal fosse o papel a própria escrita e a própria leitura do mundo realizando-se pelas mãos do artista e do «leitor», vivendo estôrias que podem ser vistas e tocadas numa cena viva – sempre em processo de gestação e mudança.

 

Miriam de Carvalho

 

Critica de artes

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