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NOSSOS

È o meio onde se deu a vivência, assim como o solo é o meio no qual as antigas cidades estão soterradas.

Walter Benjamin
 

Com esse pronome possessivo habilmente servido aos nossos olhos, Eric Collette, envolve o observador imediatamente. Nossos? Uma propriedade de fronteiras indistintas é dada de modo provocativo. A palavra é matéria nas mãos do artista.

Nossos evoca uma ausência, pois enquanto pronome não define qual posse o artista se refere. O que seria nosso!? Numa redução silábica encontraremos um imbricado jogo de sentidos: nos-sos. Nós. Sós. Numa redução gráfica encontraremos a estrutura de sustentação do corpo: ossos. Eis o irredutível, a menor unidade, osso, palavra. Eric faz das palavras substância de sua poética e utiliza ossos como suporte para uma inscrição post mortem. Sua escrita carrega resquícios de uma intervenção urbana, embora a estrutura- suporte não seja a cidade, o corpo coletivo, há, talvez, uma inversão onde a cidade é impressa no corpo, ou ainda, o corpo se torna a cidade, e exibe suas tatuagens, marcas e pinturas. São graffitis e grafismos de uma civilização que Collette, feito um arqueólogo, coleta e cataloga, e, recusando a imparcialidade científica, intervém. Há, sobretudo, uma sobreposição de escritas.

Os trabalhos são reunidos como um gabinete de curiosidades ou como registros dessa incansável coleta. São um alfabeto particular, anotações do tempo, da vida e do seu derradeiro fim.

De 14 de novembro de 2020 a 16 de janeiro de 2021

Rafael Mayer

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